‘’…O Melhor do Abstracionismo Construtivo…’’

Na obra poética e pictórica O timbre do silêncio, André Cannavaro nos convida a ver, ler,
ouvir, sentir e distinguir o seu universo pelos seus sons interiores, que possuem as mesmas
frequências e intensidades isoladas para nossa alma acorrentada ao fenômeno social
unificado pela globalização. Apresenta percepções únicas do artista frente aos
acontecimentos contemporâneos, que, na maioria das vezes, sonoramente nos emudecem
frente à avalanche de notícias quase inventadas em um mundo cada vez mais veloz,
dinâmico e colorido. Da mesma forma que o ator, autor, articulador, artista visionário,
escritor e músico se desdobram em várias almas digitais, como um antigo e mítico
personagem épico de mil e umas mãos e de mil e umas visões em infindáveis sonhos, que
não tem início e muito menos começo, tão bem descritos por diversos autores nos clássicos
da literatura uni- versal, encontrados de forma farta no Ramayana e no Mahabharata das
grandes lutas mágicas védica indianas, onde o bem e o mal se defrontam abertamente e
cada guardião desempenhava nos embates várias atribuições e façanhas em uma mesma
luta.
E pensar que o autor, já nos primeiros suspiros da infância, inquieto menino, se
movimentava incomodado no berço, indeciso pela escolha a fazer para o minuto seguinte;
mesmo calado, atento, com os olhinhos arregalados e sem choro, fitava a colcha de fuxico
tão comum no enxoval das maternidades daquela época, com dezenas de oportunas
estrelinhas multicoloridas a ser escolhida e entediada, logo a seguir, até o próximo curto

espaço de tempo. Parecem que as escolhas acertadas em nossas vidas são feitas por nós
mesmos muito cedo, antes mesmo de sairmos do conforto no morno oceano amniótico ou
do contaminar pelo novo nas primeiras dúvidas e indecisões. Acredito que algumas das
mais acertadas escolhas já nascem dentro de nós, como parte inseparável de nosso ser que
se desprendeu naturalmente da grande “mônada”, já com o foco e a velocidade apropriada
para fazer. Mas, estranhamente por teimosia e discordância perante o que é fácil e claro
preferimos o contrário que na maioria das vezes nos será mais caro. Seguimos os falsos,
acomodados e incorretos conceitos já feitos, que nos são apresentados por pessoas, cujo
erroneamente damos a incorreta autoridade das escolhas, por julgarmos e acreditarmos
inseguramente que nos conhecem tanto quanto nós mesmos; por conseguinte,
paulatinamente, nos afastamos de nossa essência única de ser perfeito com imaterialidade,
indivisibilidade e eternidade. Consequentemente, nossa reta caminhada, marca, sinal e
personalidade oficial, tornam-se rumos curvos de frustrações, atrasos e desafios, que por si
sós, para nós, não significam nada e nem nos acrescenta. Mas, dentro de meu próprio
entendimento, pensamento, reflexão e citação, digo a todos e a mim mesmo, que:
A arte só tem sentido se nos aproxima do Criador ou nos tornam melhores
criaturas.
Creio, sim, que as culturas e as artes aliadas umas às outras, em suas múltiplas plataformas
e suportes, são o mais forte e vigoroso antídoto que o ser humano perfeito pode ter por sua
alma criativa, na busca da infinita faculdade do prazer e da diversão, o conceito da nossa
servidão voluntária pelo olhar de Bauman e Huxley sobre a nova sociedade de consumo.
Sem a descoberta do que nos dá prazer, fic muito difícil descortinar nosso verdadeiro papel
planetário útil, adaptando-se ao trabalho a ser feito frente ao sucesso do todo, a partir de
seu perplexo complexo macro inventivo interior carrasco, que nos cobra os maiores índices
de acertos. Mas não devemos nos perder em detalhes. Afinal, cada qual segue sua órbita,
gravitação e luz como tão comum é na música das esferas: entre os sons que vêm de dentro,
mesmo nos mais perfeitos instrumentos confeccionados pelo melhor, maior e mais
gabaritado “luthier” (profissional especializado na construção e no reparo dos
instrumentos de corda) a partir de madeiras semelhantes, por personalidade incomum de
cada matriz, produzem os sons diferenciados e inigualáveis, de personalidade única, fruto
de sua própria essência, fibra e ressonância. Eu, particularmente, como privilegiado
convidado, ao me debruçar sobre a obra, cresci de tudo um pouco, por onde li e reli várias
vezes. O timbre do silêncio, de André Cannavaro, musicou-me por palavras e me convidou a
viajar por sua arte no seu mundo visionário criativo, dentro do que posso chamar de o
melhor do abstracionismo construtivo e, por isso, recomendo aos mais exigentes leitores
e buscadores de inovações e outras percepções. Mas, que o leiam várias vezes com ânimos
alterados, porque a obra realizada não é para ser consumida de uma só vez. Vem como um
esmerado manual de sensibilidades, que deve ser revelado a cada momento de insatisfação
perante esta insana espetacularização da cultura, onde tudo é fugaz e eterno por vinte
segundos até a próxima postagem na rede, tornando figura em fundo por ser opaco, morno
e passado.
É uma inovadora expressão da arte que o autor nos convida como um oásis de inovação, em
um momento contemporâneo do novo século e que traz a minha palavra-chave predileta do
“entrelaçares”: a música-poética, metalinguagem que vem acompanhada de luz, som, cor,

calor, perspectiva e movimento. As belas artes se expandindo e alcançando as diversas
expressões artísticas e culturais. Partes próprias e únicas de um mesmo trabalho,
que o artista tece desde a cenografia customizada ao organizar a tipologia das letras
e inserções, o ponto fora de lugar e as expressões inventadas que até há pouco não
significavam nada. São frutos verdes, apodrecidos e maduros de sua própria alma, frente à
maresia e o vento fino das noites quentes de verão, claras, estreladas, pelo céu e pelo chão,
prateadas, metalizadas pelos sprays nas paredes, digitalizadas, nuas e cruas como em
pares, pelos becos e vielas das periferias, entre tantas praias e matas virgens ou
tumultuadas que, por dádiva da criação, refrescam nossas almas e amenizam nossa solidão
das não efetivadas e imutáveis medidas.
Parece mesmo que nossas mórbidas frustrações e finitudes cabem viver sem autoperdão,
cujo poder chegar se acende em nós por raras ousadias intempestivas pensantes, aludindo
à possibilidade de que mais uma vez erramos. Pois, sobre tudo que nos parecia já ter sido
feito, mas ainda não! O ser novo e ousado é possível sempre, tanto que veio de novo por
aqui, deliciem-se…
Prefacio do livro Timbre do Silêncio

Ricardo Vianna Barradas
Advogado, Autor, Escritor, Artista e Ativista
Cultural. Marchand de Tableaux, Curador,
Perito, Avaliador, Consultor em Arte e Cultura.
Diretor Cultural da Liga da Defesa Nacional do RJ.
Presidente da Associação Fluminense de Belas Artes (AFBA),
Acadêmico Titular da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História (ABACH),
Fundador da Incubadora Cultural da Zona Oeste do RJ, levando a arte e a cultura como
plataformas inclusivas nas regiões de baixa renda e focos de violência nas periferias da
Cidade do Rio de Janeiro, desde 1970.

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