A Arte Como Declaração Particular do Inconsciente

Dentre todas as pessoas que participaram e que estiveram presentes em nossas vidas, em sua maioria, nossas mães são as mais essenciais para a nossa inspiração e constituição de nosso caráter. Dizem que ser mãe é uma das melhores coisas que podem ocorrer na vida de alguém, mas eu descobri que ter uma mãe é melhor ainda. Não tive a oportunidade de homenagear a minha quando ela estava viva, mas o faria de modos diversos. Dizem que aquela ‘’voz’’ que a gente escuta quando a gente está dentro da barriga da nossa mãe, a gente nunca mais esquece. Contudo, eu, que perdi a minha mãe de modo agressivo e brupto, tive a sorte de poder contar com outras figuras que eventualmente figurariam como mães e todas elas muito me ajudaram. Eu gostaria de não expô-las, porque este, apesar de nobre, é um sentimento personalíssimo, mas deixo aqui o meu ‘’muito obrigado’’, porque todas elas me ajudaram muito. E qual seria a ligação existente entre você e a sua mãe? Eu tinha e ainda tenho uma ligação muito forte com a minha, que faleceu em 1996. E quando a arte e a psicanálise começam a dialogar? Já pensou nisso? Eu suscito esse tema porque entre 2008 e início de 2009, o meu Psicanalista à época, o ítalo-argentino Dr. Juan Urbinati (a quem sou eternamente grato), sensível, objetivo, humanista e muito competente, ao ver essas mesmas pinturas as quais exponho a todos aqui e agora, ‘’simplesmente’’ disse, após levá-las para analisá-las de um dia para o outro, trazendo a sua versão como resposta: ‘’Todas elas são a sua mãe. Note os contornos, há seios e ventres, umbigos em várias delas, há certa insistência nas imagens femininas, que parecem estar grávidas, enfim, são metáforas visuais que trazem, de alguma forma, essa figura com quem você tem um vínculo muito forte’’.

Achei interessante a análise e me senti deveras lisonjeado com o esforço e com o interesse do nobre psicanalista; e obviamente aquelas palavras dele faziam o maior sentido, e eis que iria eu mesmo observar as obras usando outro tipo de olhar, e constataria que sim, aquelas ‘’’figuras’’ elencadas e descritas por ele de fato estavam ali. Eu não as havia ‘’imaginado’’ sob este prisma de contemplação, de propósito, no entanto. Aliás, pra mim, desde o início, eram apenas traços que foram tomando aquelas formas, sob supervisão posterior de uma amiga, despretensiosamente, e nada além disso. E como fiquei curioso, comecei a fazer perguntas. Mas e você, já parou para pensar ou já se perguntou como se formariam, como se
desenvolveriam e como seriam as fronteiras? Elas existem, seriam ou não legítimas? Como e de onde viriam e até aonde iriam os alcances entre estes peculiares universos – mentais, sentimentais e artísticos? Qual seria então, ou quais seriam, os pontos de convergência entre todos os domínios do ser humano?

To my Mother
NO FEAR
(André Cannavaro)

She’s not afraid

‘Cos she was made to fly

She’s not afraid

‘Cos she now lives in the sky

Let her wings just grow

Let her wings just go

Let her heart sing

Let her look at me again

She wants to walk

She wants to talk

But she can’t

She has no voice

She has no choice

No she has not

Let her eyes feel the brightness

Let her eyes see the Sun

Let her soul live free

Let me taste her kiss again

Don’t give up, don’t give up, don’t give up!

Heaven is coming

Don’t give up, don’t give up!

And when you reach the light

And when you shine tonight

How could you leave me a smile?

Please, don’t give up the fight.

Por quanto tempo eu levei

QUERO ACREDITAR
(André Cannavaro)  
                        

A minha vida pensando

Tentando entender o porquê

De tanta ferida

E quantas noites em claro passei

Sonhando acordado, esperando

Tentando esquecer aquele dia

Em que o mundo caiu pra mim

Te levou, pra longe daqui

Mas quero acreditar que um dia vou te encontrar          

Num belo lugar, lá no alto então você vai estar

Posso até imaginar como seria então rever

Poder te olhar bem de perto de novo

Há sempre momentos

Que eu nem sei quem sou

Mas sigo os seus passos

E acho a saída

Pego a estrada

Eu sei

É uma longa jornada

E chove bastante

No escuro, eu vejo um feixe de luz

Mas quero acreditar que um dia vou te encontrar          

Num belo lugar, lá no alto então você vai estar

Posso até imaginar como seria então rever

Poder te olhar bem de perto de novo

Homenagens (escritas, compostas, registradas, produzidas, gravadas e distribuídas) à minha mãe, a Dra. Valeria Sarto F., que morreu assassinada em 1996. No Fear foi escrita alguns meses depois, em Petrópolis, RJ, na casa da minha querida madrinha, Tia Celia Uchôa, que também assumiu esse papel de ‘’mãe’’. Eu usei o violão que ela havia me dado e que era do meu avô paterno, que era cantor e que gravara vários discos (ficaria sabendo disso anos depois de sua morte). O primeiro a ver a letra e a ouvir a canção foi Dudu Amorelli. No Fear foi gravada pelas bandas JELLYFISH RIO, STEELBRAIN, CANNAVARO FEAT. ROD ROSSI E WADOO JAM, talvez seja a canção mais especial (das 200) que eu já

tenha escrito. e/ou composto. Quero Acreditar foi das primeiras canções em português que escrevi e compus, logo em 1998. Gravei com a lindíssima participação da cantora GRACIE CARVALHO, do exímio músico e premiado com Grammy CHICO CHAGAS, e com os amigos ELIEL CARVALJHO, NILSON DO CELLO, RICARDO DARIN E ANDRE BUENNO (hoje, em Los Angeles). Há outras versões com o Wadoo Jam, tendo Dudu Amorelli nos vocais. A primeira de todas as versões gravamos com a banda Neurônios Fritos, com os amigos Dudu Amorelli, Frederik Purper, Carlos Foca e Ricardo Darin, mas nós a perdemos. Ninguém consegue achar. Eu resolvi então associar as canções às pinturas porque no primeiro caso eu sabia o
que estava fazendo, ou seja, eu queria mesmo homenagear à minha mãe. No caso das pinturas, não, mas também aconteceu, ou seja, foi manifestação do meu inconsciente. E que bom que eu pude mais uma vez, homenagear àquela pessoa incrível que me dera a vida,
sem me pedir nada em troca.

‘’…O Melhor do Abstracionismo Construtivo…’’

Por Ricardo Barradas

Na obra poética e pictórica O timbre do silêncio, André Cannavaro nos convida a ver, ler, ouvir, sentir e distinguir o seu universo pelos seus sons interiores, que possuem as mesmas frequências e intensidades isoladas para nossa alma acorrentada ao fenômeno social unificado pela globalização. Apresenta percepções únicas do artista frente aos acontecimentos contemporâneos, que, na maioria das vezes, sonoramente nos emudecem frente à avalanche de notícias quase inventadas em um mundo cada vez mais veloz, dinâmico e colorido. Da mesma forma que o ator, autor, articulador, artista visionário, escritor e músico se desdobram em várias almas digitais, como um antigo e mítico personagem épico de mil e umas mãos e de mil e umas visões em infindáveis sonhos, que não tem início e muito menos começo, tão bem descritos por diversos autores nos clássicos da literatura uni- versal, encontrados de forma farta no Ramayana e no Mahabharata das grandes lutas mágicas védica indianas, onde o bem e o mal se defrontam abertamente e cada guardião desempenhava nos embates várias atribuições e façanhas em uma mesma luta.

A arte só tem sentido se nos aproxima do Criador ou nos tornam melhores criaturas.

Creio, sim, que as culturas e as artes aliadas umas às outras, em suas múltiplas plataformas e suportes, são o mais forte e vigoroso antídoto que o ser humano perfeito pode ter por sua alma criativa, na busca da infinita faculdade do prazer e da diversão, o conceito da nossa servidão voluntária pelo olhar de Bauman e Huxley sobre a nova sociedade de consumo. Sem a descoberta do que nos dá prazer, fic muito difícil descortinar nosso verdadeiro papel planetário útil, adaptando-se ao trabalho a ser feito frente ao sucesso do todo, a partir de seu perplexo complexo macro inventivo interior carrasco, que nos cobra os maiores índices de acertos. Mas não devemos nos perder em detalhes. Afinal, cada qual segue sua órbita, gravitação e luz como tão comum é na música das esferas: entre os sons que vêm de dentro, mesmo nos mais perfeitos instrumentos confeccionados pelo melhor, maior e mais gabaritado “luthier” (profissional especializado na construção e no reparo dos instrumentos de corda) a partir de madeiras semelhantes, por personalidade incomum de cada matriz, produzem os sons diferenciados e inigualáveis, de personalidade única, fruto de sua própria essência, fibra e ressonância. Eu, particularmente, como privilegiado convidado, ao me debruçar sobre a obra, cresci de tudo um pouco, por onde li e reli várias vezes. O timbre do silêncio, de André Cannavaro, musicou-me por palavras e me convidou a viajar por sua arte no seu mundo visionário criativo, dentro do que posso chamar de o melhor do abstracionismo construtivo e, por isso, recomendo aos mais exigentes leitores e buscadores de inovações e outras percepções. Mas, que o leiam várias vezes com ânimos alterados, porque a obra realizada não é para ser consumida de uma só vez. Vem como um esmerado manual de sensibilidades, que deve ser revelado a cada momento de insatisfação perante esta insana espetacularização da cultura, onde tudo é fugaz e eterno por vinte segundos até a próxima postagem na rede, tornando figura em fundo por ser opaco, morno e passado.

Prefacio do livro Timbre do Silêncio
Ricardo Vianna Barradas

Advogado, Autor, Escritor, Artista e Ativista

Cultural.  Marchand de Tableaux, Curador,

Perito, Avaliador, Consultor em Arte e Cultura.

Diretor Cultural da Liga da Defesa Nacional do RJ.

Presidente da Associação Fluminense de Belas Artes (AFBA),

Acadêmico Titular da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História (ABACH),

Fundador da Incubadora Cultural da Zona Oeste do RJ, levando a arte e a cultura como plataformas inclusivas nas regiões de baixa renda e focos de violência nas periferias da Cidade do Rio de Janeiro, desde 1970.

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